quarta-feira, 5 de março de 2008

O cão velho e o vendedor de canetas


Lá vinha ele novamente.
Eu lá, sentado no degrau de uma casa, em minha rotineira espera de ônibus e comecei a reparar naquele cão que todos os dias vinha em minha direção, levado pela empregada de sua dona.
O ponto de ônibus estava cheio e ele, o cão, não parecia querer passar por lá. Ele não parecia querer passar por lugar nenhum, na verdade. Seu cansaço e desânimo estavam por todo corpo, mas especialmente seus olhos, fundos, transpareciam um desejo inconsciente e reprimido de não mais viver.
Todos ali parados não paravam de olhar. Suas pernas fracas mal suportando o peso de seu corpo, sua cabeça baixa, seus músculos trêmulos, seu andar vagaroso e inconstante. Parecia buscar ar a cada vez que parava de caminhar e sua respiração, ofegante, chamava a atenção de todos os presentes que, sem querer, paravam no tempo para observar e ter pena daquela situação. Lentamente ele se afastou até sumir de vista.


Horas depois, em outro ponto de ônibus (agora voltando pra casa), olhei pro lado e vi um velho. Já havia o visto algumas vezes nos arredores da Paulista. É um senhor bem velho mesmo!
Todos os atributos que citei acima, me referindo ao cão, podem ser perfeitamente aplicados a ele também. Mas tinha uma diferença: o cachorro passeava (mesmo que isso fosse um esforço), apenas.
Já o velho, carregava peso.
Estava trabalhando.
Vendendo canetas, para ser mais específico.
Por quê? Não sei, e aposto que muita gente que o viu também já se fez essa pergunta.
O cachorro, por mais debilitado que estivesse, recebia todo o cuidado de várias pessoas (dona, empregada, possível filho da dona, enfim). Já o senhor... trabalhava para se manter? Para manter outros, o que seria pior?
Não quero entrar em questões sociais para esse texto não ficar gigante e mais chato do que já deve estar.

O que quero dizer, finalmente, e concluí depois de ter visto e analisado as duas situações que contei, é que devemos viver intensamente cada segundo dessa vida. Aproveitar o máximo possível da força que temos em nossos 20 e poucos anos (ou nem isso) (sim, meu público é segmentado). Fazer de tudo para não deixarmos escapar aquilo que queremos muito, por medo, preguiça ou comodismo. Enfim, viver de verdade!

Afinal, estamos todos sujeitos a passar os últimos dias velhos, como um cão que ninguém nunca imaginou que fosse ficar daquele jeito, e abandonados, como um cansado e solitário vendedor de canetas.

E a fonte da juventude não funciona nem no desenho do Pica-Pau...