quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eutanásia

Livre-me do mal, que tal? Cure-me do desconforto que morto não sente dor. Pare minha fome e retome sua vida. Agrida com vitória quem só me faz ferida. Deixe-me ser dominada, já que dela não escapa nada. Não tem jeito, já tá feito. Doença maldita que me leva à escuridão. Não, não peça perdão. Melhor assim. O fim não é pior que esse meio. O alívio é melhor que o receio. E é assim que eu me recolho. Se insiste, me olha no olho. Não posso falar, mas sei demonstrar. Neste brilho, como de uma mãe para um filho, está sua absolvição. Não se preocupa. Não bota a culpa em ninguém, pois quem poderia evitar? Mas não me deixa te ver chorar! Não me dá mais esse castigo. Esse fardo, amigo, é meu. Mas valeu! Estarei para sempre contigo. E me carrega sempre na memória. Toda história que construímos... e como nos divertimos! Agora, tenta dormir. Amanhã já quero partir. E terá que assinar um papel que vai garantir minha ida pro céu. Seja forte, meu rapaz. Pode crer: ficarei em paz. Quando o líquido me invadir, segura bem a minha mão. Minha visão vai diminuir e não quero ver ou sentir sua lágrima caindo. Estarei indo. Cuida da sua mãe e da minha. Elas eram o mais importante que eu tinha. Fica bem aí desse lado. Eu só posso dizer obrigado. E quando der, por favor, sorria. Vai acabar a minha agonia.











dedicado à minha gata Faísca que, há dois meses, partiu rumo a Gatópolis.