terça-feira, 21 de outubro de 2008

Acerto de contas

Tudo planejado.
O encontro estava marcado para às 20h no apartamento dela. Ele colocou sua melhor roupa, sua blusa verde favorita, seu melhor perfume e, pela primeira vez, não chegaria atrasado. Tudo tinha que ser perfeito para aquele momento e nada poderia atrapalhar.

Os dois não se viam há mais de um ano. Antes disso, se amavam feito loucos e, nesse meio tempo, a saudade sempre os acompanhou. Como seria agora, eles não faziam a menor idéia.

...

Depois de 40 minutos que saiu de casa, exatamente às 19h58, ele tocou a campainha do apartamento 121. Ela abriu a porta e fez perceber que continuava do mesmo jeito, apesar da tinta no cabelo. Ainda era o tipo de mulher ideal para ele.
Cumprimentaram-se.
Ela usava um vestido vermelho, com detalhes brancos. Ele nunca tinha a visto de vestido, daquele jeito e com aquela elegância. Com toda certeza ela também esperava bastante daquela noite.

Por um instante, no começo da conversa, sentiram o estrago que a distância e o tempo fizeram com os dois. Faltava assunto, faltavam palavras, sobrava timidez.

Nada que 15 minutos de conversa, espera e ansiedade não resolvesse. Entregaram-se àquela que havia sido a paixão mais arrebatadora de suas vidas.
Desde que haviam se reencontrado, 15 minutos bastaram para que a timidez estivesse no chão. Desde que começaram a se beijar, 10 minutos bastaram para que estivesse no chão o vestido vermelho, a blusa verde e qualquer outra vestimenta que usavam.

Mesmo tendo se amado tanto, por tanto tempo, aquela era a primeira vez que deitavam-se juntos. O calor do momento não permitia que nada do passado viesse a tona. Não permitia que vissem, ouvissem e sentissem nada a não ser aquele momento único de prazer que era proporcionado por suas antigas paixões.

...

Algum tempo depois, eles riam. Riam por tudo e por nada. Riam por não fumarem, riam da janela entreaberta, riam da camiseta que acabara de ser vestida ao contrário. Riam do que tinham acabado de fazer. Estavam felizes e satisfeitos.

Terminou de se vestir. Despediu-se dando um último beijo, dessa vez no rosto dela, e saiu do apartamento.
Saiu para nunca mais voltar. Os dois sabiam que dali por diante nunca mais se veriam e, se por um acaso do destino ainda se encontrassem novamente, nunca fariam o que tinham feito.

O amor e a paixão que uniram os dois há tanto tempo já estavam mortos e enterrados há quase um ano.

Saiu do apartamento e sorriu.

Olhou no relógio e começou a correr. Estava com pressa. Ainda tinha que passar em casa e tomar um belo banho antes de se encontrar com sua namorada, às 23h no outro lado da cidade.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre o futuro

Tantas coisas, tantas situações, tantas confusões...
Tantos tantos que se viu perdido.
Só lhe restava o futuro como esperança ou consolo. Pôs-se a pensar em tudo que poderia ser e tudo que não mais seria. O que ganhava e o que perdia.
No entanto, este pouco que sobrava também não o satisfazia.

O futuro não existe. É ilusão. Pensar no futuro é tão vazio como não pensar em nada. Amanhã, minha vida pode estar acabada embaixo de um ônibus, num hospital sujo ou até mesmo no conforto do meu lar. De que valeu, então, planejar e vislumbrar tanto?

Ele não queria ser tão trágico.

Tudo que podemos querer, um dia, são situações para serem vividas no presente. Agora. Só isso importa. Nunca sentiremos agora o que sentimos há um mês, tampoco sentimos o que sentiremos daqui um mês. Sentimos o que acontece agora, no presente.

Também não queria ser tão profundo e raso ao mesmo tempo, nem tão filósofo, nem tão chato...

O que quero dizer é que se a gente não viver o presente, não aproveitar cada momento... o momento seguinte pode não acontecer e o que passou não volta mais.

Ele não queria dizer nada, para ninguém, sobre o que deveriam fazer. Apenas queria alguma conclusão para seguir em frente.

E tentava fazer isso com o quase-nada que tinha em mãos, tentando se desvencilhar dos maus sentimentos e pessimismos que o cercavam.