quinta-feira, 16 de abril de 2009

Castelo em chamas

Não se sabe exatamente onde era aquele reino. Sabe-se que existiu.
Sabe-se também que o Rei era um louco, incrivelmente apaixonado por aquilo que possuia e fissurado em possuir todas as outras coisas do mundo que lhe agradavam aos olhos.
A Rainha, louca de verdade (pois o Rei era apenas no sentido figurado) e cheia de defeitos era, ainda assim, o que a majestade considerava de mais valioso em todo o castelo. Nada mais sabe-se sobre ela e, de resto, sabe-se muito pouco, restando apenas contar o que ninguém sabe ser legitimamente correto. Como o próprio castelo, o qual, vale ser dito, possuia portões de ouro da Malásia, piso de mármore austríaco, peças de diamante por todos os lados, banheiras de rubí da Índia, pias de esmeralda das profundezas do mais longínquo deserto e etc, etc, etc.
Empregados não faltavam. Eram eles que faziam tudo para o Rei, desde tarefas como abaná-lo nos dias quentes, como ir até o comércio da plebe para comprar cobertores de pêlo de urso do Alaska para os dias frios. E o que mais viesse de melhor do estrangeiro.

Certo dia, enquanto a Rainha desfrutava do luxo do castelo e banhava-se com as mais cristalinas águas da montanha que enchia sua banheira, o Rei entediou-se com tanta riqueza material e resolveu dar valor para coisas mais simples. Inventou, então, de ir ele mesmo, a pé, até a plebe, sem carruagens nem nada. Como não queria ser reconhecido como rei, vestiu as roupas de um empregado, tirou a barba, deixou a coroa em cima da imensa cama e, sem avisar ninguém, partiu.

Algumas horas depois, ao se aproximar de seu reino trazendo nas mãos duas jarras de puro e simples barro, feitas por um artesão de lá, ele não acreditava no que via. O castelo ardia em chamas tão altas quanto as colunas que ainda lutavam para mantê-lo em pé. Tudo, em questão de minutos, irremediavelmente viraria cinzas e fumaça.

Os empregados fugiam passando batido por aquele senhor qualquer, de roupas simples e com jarras de barro nas mãos.
Implorou a um dos que passavam para que contasse o que tinha acontecido e se sua jóia mais preciosa, a Rainha, estava bem.

E caiu de joelhos quando ouviu o empregado explicar que ela, ao sair do banho, viu que o Rei não estava lá e havia deixado sua coroa. Concluiu que o Rei tinha lhe abandonado e, atordoada, resolveu fugir para outro reino, mas não sem antes atear fogo em tudo aquilo que construíram em toda uma vida e agora já não fazia sentido de existir.

O Rei atirou para longe suas novas peças de barro, enquanto via os bobos-da-corte abandonarem o castelo com sua coroa em mãos e algumas garrafas de vinho que conseguiram salvar do fogo.

Bebiam felizes e brindavam:
"A Coroa à puta que o pariu!"










Moral da história:
Se és um Rei, contente-se com o que tens e não busque peças sem valor. Podes acabar um fudido, sem castelo, sem rainha e com bobos caçoando de ti.