sexta-feira, 18 de julho de 2014

Matrimanicômio

Entrou a noiva, acompanhada por seu pai, um senhor de idade que visivelmente só esperava sua única filha casar para poder morrer em paz.
A beleza daquele momento envolvia a todos, aquele vestido branco representando a mais pura pureza que um dia achamos ter se extinguido. Lá estava. Pura e linda, a passos lentos e firmes.
O noivo aguardava, só não inteiramente impecável pois as lágrimas de felicidade escorriam em seu rosto de barba bem feita.
A música, a marcha nupcial, todos em pé.
Diferente de outros casamentos maçantes, o padre fez um discurso tocante, cativante, empolgante e avassalador. Todos, sem exceção, emocionados com o sublime desfecho de um romance antigo.
Seguiu o padre, depois de uma benção em latim, para finalizar o casório, a batina e enfim descansar, com as famosas perguntas e juras de amor. Sem pestanejar, os dois aceitaram. O que faltava era apenas uma pergunta, uma mera formalidade, mas o padre assim a fez:
-Se alguém tem algo contra este matrimônio, que fale agora ou ca...
-PARE ESTE CASAMENTO! - bradou um homem de terno, abrindo os imensos portões da igreja e invadindo a Casa de Deus.
Alguns segundos de choque e incredulidade geral.
Passados os pequenos instantes de infinito silêncio em que todos os olhos fixaram-se naquele estranho, o homem agora forçava a vista ao lançar seu olhar diretamente aos noivos.
-Pera aí... Essa igreja é a Nossa Senhora da Lapa?
-Nossa Senhora do Rosário, meu filho. - respondeu uma velhinha simpática sentada ao fundo.
-Deus do céu, gente, me desculpa!!! Nossa, desculpa mesmo! - fechou o portão e saiu às gargalhadas.