quarta-feira, 30 de setembro de 2009

(in)Verno

Foi tudo tão rápido.
Conheceram-se, conversaram algumas vezes, perceberam suas afinidades, riram e em poucos dias sentiram a necessidade de estarem juntos.

E lá estavam. Embaixo de um céu completamente aberto, à beira de um lago, numa linda tarde. Fazia frio, mas o sol o impedia de incomodar. Fazia muito sol, mas o frio o impedia de incomodar. Ou seja, o clima estava perfeito e a grama verde nunca foi tão convidativa.
Deitados e abraçados, alimentavam patos e gansos, que, curiosos, flutuavam até a beira do lago para saber quem eram aqueles dois desconhecidos.

Conversavam e riam. Descobriam-se cada vez mais. Todos os assuntos que sempre os intrigavam surgiam para se explicar ou para realmente fugir a uma lógica. Ele não entendia a simplicidade das cachoeiras e ela não entendia a complexidade dos buracos-negros, mas os dois fenômenos os encantavam. E cada vez mais eles se viam mais encantados um pelo outro.

O sol começou a ir embora. Mas não sem antes presenteá-los, pintando todo o céu de laranja. A paisagem se fez linda. O grande lago refletia o pôr-do-sol e as árvores. Muitas cores.
E se já estavam juntos antes do sol partir e deixar o frio dominar, agora eles estavam praticamente grudados. E, claro, não era apenas para se aquecerem. Aquele cenário perfeito exigia que se beijassem. Assim o fizeram.

Agora olhavam o céu, mais escuro e viam estrelas. Só duas estrelas, pra ser mais exato. Ou três. A cada minuto, uma estrela nova e um beijo novo. Mais estrelas. Mais escuro. Mais beijos. Mais frio. Mais abraços. Céu estrelado. Muito frio.
Era hora de ir embora.

Caminhavam de mãos dadas. "Que estranho", pensou. "Mas que bom!", continuou analisando.
Foram jantar. Sanduíche de presunto e Coca-Cola. Simples demais, mas os dois adoravam essas simplicidades.
Estavam de volta ao apartamento dela. Um colchão na sala, travesseiros, cobertor pesado e um filme na TV foram suficientes para voltarem à magia do pôr-do-sol no lago.
Mãos dadas, mais risadas, mais beijos, mais abraços, calor. Mais tudo de novo. Mais calor. Jogo na TV.

Era o time dele na final. Era ela torcendo contra. Era o time dele fazendo gols. Era ela se irritando. Era ele tirando sarro. Era ela o golpeando fortemente com uma almofadada na cara. Eram os dois rindo feito bobos.

E era hora, agora, dele voltar pra casa. Enquanto ele esperava o elevador, subitamente olhou pra ela e a viu sorrindo, com um brilho no olhar, observando-o. Ganhou o dia, o mês e o ano naquele olhar.

Enquanto seguia seu caminho de volta pra casa, a fumaça saía de sua boca e ele sorria. "É muito querer mais dias assim?", perguntava-se.

Aquele dia de outono foi tão incrível que, no começo da primavera, ele lembrava e encontrava a resposta: "Sim, seria querer muito!"
O amor dos dois pouco resistiu ao inverno. Tão rápido quanto veio, na aproximação, foi-se, no afastamento.

Perguntou-se "como?" e achou ter entendido. Talvez um fosse simples como uma cachoeira e o outro fosse complexo como um buraco-negro.
Mas era só uma suposição.

5 comentários:

Vitor disse...

Eu quase senti tudo. Juro.

Se existe prazer algum na leitura, há de ser isso que você acaba de me proporcionar com esse texto que parece despido de formalidades e coberto daqueles sentimentos que todos compartilhamos.

O final oportuno e arrebatador é só a cereja do bolo.

Douglas Funny disse...

foi bem isso aí q o vitinho falou, só q com um vocabulário pra leigos (só q eu num vou repetir).

quente e gostoso... de ler.

gostei das menções a Chaves em "sanduíche de presunto", "suposição" e... deve ter mais, mas eu peguei só essas.

Abraço.

Cá Ciarallo disse...

Por mais clichê que possa parecer, faço das palavras do Vitinho e do Funny as minhas.

Achei extremamente belo como eu fui capaz de ver cada pedacinho do texto bem na minha frente. E como pude sentir também. Acabei de ler com um sorriso bobo no rosto.

E volto a repetir: incrível como os apaixonados são tão bobos, não?



Ah sim! E eu te odeio, hunf! =)

Tarsila Guerrero disse...

Seus amigos escrevem bonito, me dá vergonha de escrever.
Não sei se é verdade, mas essa história me parece familiar em alguns momentos, estou certa?
Mas sabe, adorei. Do mesmo jeito que adoro todos os seus textos, mas com algo diferente: me emocionou como poucos.
Não, não derramei lágrimas nem soltei suspiros, apenas um sorriso. No início me pareceu romance demais pra você, mas no final te encontrei e quase pude ouvir sua voz contando...
Adoro o jeito que você escreve

Mar e Ana disse...

O jeito que vc contou aqui ficou bem mais bonito...

:***