quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A abdução


Parte I - Descrevendo o começo

Abri meus olhos.
A nave não era grande. Devia ter mais ou menos o tamanho de um quarto, ou de uma sala de apartamento pequeno. Não sei, entretanto, se era apenas um compartimento de muitos, já que não saí de lá, onde era observado de perto por três criaturas e, de longe, por mais uma, que parecia supervisionar toda a situação.
Deviam ter entre 1,90m e 2m de altura. Cor acinzentada e formas humanas, exceto pela testa, bem maior que o normal, a ponta da cabeça triangular e a ausência de nariz. Usavam um uniforme branco, com detalhes prateados, com um emblema muito bonito, parecido com uma espécie de ave. 
Não senti medo deles em nenhum momento, mas estava muito confuso. Não sabia como havia parado ali, o que tinha acontecido e nem onde estava antes. Tentei me levantar, mas “me disseram” para não me mexer. Essa, aliás, é uma das partes mais difíceis de explicar: essa comunicação – e as outras que seguiram – se deram de forma telepática. Nós nos entendíamos sem falar nada. Quando eu falei, recebi a “mensagem” que não precisava de sons vocálicos para me fazer entender, que isso era em vão. Obedeci e me calei. 
Ao lado da maca onde permaneci deitado havia 3 janelas pequenas. Movi a cabeça lentamente para olhar por elas e notei um céu absurdamente estrelado. Só então percebi que estávamos em altíssima velocidade. Sem ruídos, vibrações de motores ou nada do tipo. Era como se o céu se movesse rapidamente pela janela, e não o contrário. Foi o primeiro momento em que o medo esfriou minha espinha. 
Pra onde eu estava indo, afinal?

Parte II – O que aconteceu

Percebendo, ou sentindo, sei lá, o meu pavor, a criatura que estava mais afastada se aproximou e me tranquilizou “dizendo” que eu logo estaria no mesmo lugar que estava antes. Os outros três seguiam concentrados me olhando, me examinando, mas sem me tocar nenhuma vez. Era como se pudessem ver meus órgãos internos através de minha pele. 
Alguns minutos, talvez meia hora depois, todos se afastaram de mim e prenderam-se em um tipo de cinto de segurança. Houve um tranco, como se a nave fosse de sei lá quantas centenas ou milhares de quilômetros por hora para zero em um segundo, mas sem impacto algum. Meu pescoço doeu, minha cabeça latejou forte umas 3 vezes, parecia que ia explodir. E, do nada, passei a sentir um frio na barriga. A nave descia verticalmente em altíssima velocidade. Fechei os olhos com força, imaginando e pressentindo o impacto que viria a seguir. Pensei que era meu fim. Mas, ao contrário, dessa vez houve uma desaceleração suave e constante, me dando alívio e me fazendo abrir os olhos para buscar a janela, curioso. 
A “aventura”, se assim posso dizer, já estava suficientemente absurda, parecia filme, parecia coisa do History Channel, qualquer coisa do tipo. Mas bizarrice pouca é bobagem. Quando abri os olhos, pude ver o momento exato que a nave submergiu no oceano. Lembrei do Triângulo das Bermudas, mas na verdade eu não fazia a menor ideia de onde estávamos mergulhando. Enquanto a nave descia, mais e mais, os seres se soltaram, mas não vieram em minha direção. Pela janela já não havia visibilidade nenhuma, somente as luzes internas daquele compartimento estranho. 
Surgiu, então, não sei de onde (pois tentava olhar para a janela), uma quinta criatura, Essa, bem diferente dos quatro tripulantes, não tinha formas humanas. Era marrom, bem mais baixo (1,40m, creio eu), olhos imensos e vermelhos, braços compridos. Ele segurava uma pequena peça de aparência metálica, a qual entregou para um dos 3 seres que haviam me “examinado”. Outro deles colocou em meu rosto uma espécie de óculos escuro, roxo. Daí veio um clarão muito, muito forte. Sem os óculos, imagino que poderia ter ficado cego, tamanha a claridade que se fez.  E após o clarão, de lá não me lembro de mais nada.

Parte III –  O depois

Quando abri os olhos, estava deitado na grama, num lugar mais afastado do sítio onde me reuni com alguns amigos. Era lá que eu estava antes de tudo acontecer. Coloquei a mão no bolso da minha bermuda e meu celular estava lá. Olhei as horas. Lembrei-me que quando saí de perto do pessoal, buscando sinal pro celular, eram 22h. E, mesmo com a clara impressão de ter passado umas 5 horas fora, no espaço, no oceano, sabe-se lá onde, o relógio marcava 22h10. Tudo aconteceu em 10 minutos! Levantei e voltei pra perto da galera, que ainda fazia churrasco. Passei reto por eles, precisava ir ao banheiro, estava com uma vontade absurda de urinar. No espelho, notei uma pequena cicatriz no meu peito e passei a procurar por outras. Havia mais uma, um pouco maior, nas costas. Um pouco preocupado, vesti uma camiseta e voltei ao convívio dos meus amigos sem lhes contar nada. Nunca senti incômodo algum. Passado alguns dias, a cicatriz do peito desapareceu. Já a das costas, que era maior, não sumiu, mas eu a cobri, tempos depois, com uma tatuagem: um desenho levemente parecido com o emblema do uniforme dos tripulantes da nave onde passei os momentos mais bizarros da minha vida. Momentos estes que, por falta de coragem, jamais contei pra ninguém e que hoje, sem qualquer motivo aparente, resolvi narrar.

Se passei por uma abdução extraterrestre? Difícil dizer.
Minha memória e minha imaginação passaram a se confundir desde aquela noite de carne, bebidas, substâncias ilícitas e música ruim...

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